Traficantes agiam com violência em Nova Olinda do Norte
Testemunhas ouvidas no inquérito da Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), que apurou a atuação de um grupo criminoso em Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros de Manaus), apontaram práticas violentas contra indígenas que habitam as margens do Rio Abacaxis, praticadas por criminosos ligados ao tráfico de drogas. Lideranças indígenas do local defendiam a permanência do reforço policial para trazer tranquilidade à região.
De acordo com um cacique do povo munduruku e sateré, há conflitos de terras na região envolvendo os indígenas e os ribeirinhos não indígenas. Na região do Rio Abacaxis, o grupo criminoso liderado por Valdelice Dias da Silva, vulgo “Bacurau”, “tem agido com muita violência há algum tempo”, nas palavras do cacique.
Bacurau foi indiciado pelo assassinato de dois policiais militares da Companhia de Operações Especiais (COE), mortos em agosto. O criminoso fazia abordagens ilegais armadas a mando de Natanael Campos da Silva, presidente da Associação Nova Esperança do Rio Abacaxis (Anera), apontado pelas investigações como o homem que informou aos criminosos que a polícia tinha chegado ao local.
Com a presença de homens armados na área de mata, os indígenas estavam deixando de realizar as atividades cotidianas, como a caça e a pesca noturna. Segundo o cacique, o povo Munduruku está se sentindo amedrontado.
O coordenador técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai), Gilmar Palheta de Assunção, confirmou em depoimento que o Rio Abacaxis é cenário de conflito em relação às terras ocupadas por ribeirinhos e comunidades Maraguás e Mundurukus. Desde que os Maraguás deram início à reivindicação de terras às margens do rio, os conflitos começaram. Em junho, o filho de um cacique foi brutalmente assassinado, com 16 facadas. A faca usada no crime foi deixada cravada no corpo da vítima.
Indiciados
A Polícia Civil do Amazonas remeteu à Justiça, no final de agosto, o Inquérito Policial acerca da organização criminosa que atuou no duplo homicídio qualificado de policiais militares da Companhia de Operações Especiais (COE), ocorrido no início de agosto, em Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros de Manaus). Foram indiciados nove integrantes do bando, entre eles o presidente da Associação Nova Esperança do Rio Abacaxis (Anera), responsável pelas fiscalizações ilegais que ocasionaram a morte dos policiais.
Durante a emboscada nas proximidades da comunidade Santo Antônio do Lira, às margens do Rio Abacaxis, o 3º sargento Manoel Wagner Silva Souza e o Cabo Márcio Carlos de Souza foram assassinados e outros dois policiais foram baleados.
Os infratores vão responder por oito diferentes crimes. Presidente da Anera, Natanael Campos da Silva, vulgo ‘Natan’, e os irmãos Valdelice Dias da Silva, vulgo “Bacurau”, e Valcinei Dias da Silva, vulgo “Lapingo”, vão responder pelos crimes de organização criminosa, associação criminosa, duplo homicídio qualificado, duplo homicídio qualificado tentado, usurpação de função pública e extração ilegal de madeira.
Também foram indiciadas por associação criminosa as irmãs Zilma Dias da Silva, Enas Dias da Silva, Maria José Dias da Silva e Gleide da Silva Rodrigues, familiares de Bacurau e Lapingo, e os infratores identificados apenas pelas alcunhas de “Milton” e “Zé Carlos”.